O ombro é uma articulação esférica, formada entre a lateral da escápula e o ápice do úmero (o osso do braço). A escápula forma um disco achatado e circular oposto ao úmero, e esse disco ganha um formato de uma taça em virtude de uma aresta de tecido macio que cobre toda a sua borda. A cabeça do úmero é arredondada, harmonizando-se com a superfície receptora no lado da escápula. Isso significa que a articulação do ombro é muito diferente da do quadril, embora ambas tenham estruturas correspondentes, na medida em que são esféricas e ligam os membros ao tronco.
No topo do ombro temos um arco do osso, o acrômio, que embora esteja estruturalmente separado da articulação, liga-se a ela funcionalmente. O acrômio é formado pela apófise terminal da crista da escápula, que podemos sentir no topo do ombro, e articula-se com a extremidade da clavícula, logo acima da parte anterior do ombro. A espinha da escápula e a clavícula formam um V, com o vértice do V para cima.
Como o ombro está acolchoado por músculos espessos, é difícil encontrar os ossos que formam a articulação. Há também numerosos nervos atravessando a articulação, o que torna bastante desagradável fazer pressão com demasiada força sobre os ossos. Se colocarmos a mão em redor da cabeça do úmero, de modo que o polegar fique na axila, e erguermos o braço lateralmente, poderemos tatear a extremidade arredondada desse osso com o polegar, se movimentarmos o cotovelo para trás e para frente.
Tecidos Moles
O ombro está encerrado numa cápsula muito frouxa, ou bolsa de retenção de tecido, que cobre a totalidade da cabeça do úmero e o prende à borda externa da superfície receptora na escápula. A cápsula espessa-se em ligamentos protetores na parte anterior do ombro, mas a principal proteção da articulação é fornecida pelos tendões que atravessam por trás, por cima e pela frente. O tendão do bíceps, que cruza pela frente do ombro, atravessa na realidade a estrutura articular, adicionando uma outra força estabilizadora à articulação. A parte menos protegida da articulação é seu lado inferior, na axila. Quando temos o braço caído ao longo do corpo, a cápsula articular dobra-se para baixo numa bolsa folgada. Quando se levanta o braço lateralmente, essa folga é eliminada e a cápsula fica estendida, mas não existem faixas espessas de ligamentos ou tendões limitando esse movimento ou protegendo a articulação de um esforço excessivo nessa direção.
O contorno suave, arredondado, do ombro é formado pelo músculo deltóide, que se estende sobre as faces anterior, posterior e superior da articulação.
Separando os tendões em torno do ombro, uns dos outros e da estrutura articular, existem numerosas bolsas serosas (bursas), as quais propiciam o movimento livre de atrito entre os tendões e os tecidos subjacentes.
Funções
O ombro é a articulação mais móvel de nosso corpo. Podemos erguer o braço para a frente, para trás, para o lado e para cima da cabeça. O ombro também gira, permitindo-nos colocar as mãos na nuca ou atrás das costas. Combinando todos esses movimentos acessíveis na articulação, podemos realizar um completo movimento giratório circular, chamado de "circundução", no ombro.
Quando erguemos o braço estendido lateralmente, podemos ver o volumoso músculo deltóide contrair-se para produzir o movimento e sentir o músculo trabalhando colocando uma mão sobre ele. Levando depois o braço à frente, mantendo o cotovelo no ar, podemos sentir a parte anterior do deltóide funcionando sobre a frente do ombro. Se puxarmos o braço para trás, sempre com o cotovelo erguido, sentiremos a contração da porção posterior do deltóide. Quando colocamos o braço ao lado do tórax, com o cotovelo erguido, sentiremos a contração da porção posterior do deltóide. Quando colocamos o braço ao lado do tórax, com o cotovelo fletido em ângulo reto e pressionamos a mão na direção do abdome contra uma resistência fixa, percebemos os músculos rotadores na face anterior do ombro trabalhando isometricamente . Pressionando uma resistência na direção oposta à do nosso corpo com a mão , com o cotovelo fletido, percebemos a contração dos músculos rotadores na face posterior do ombro, pondo a outra mão sobre ele. Na maioria dos movimentos do ombro, há uma interação complexa entre os músculos operantes que se contraem e relaxam para produzir a mais ampla gama possível de movimentos. A articulação não trabalha isoladamente quando movemos o braço. Toda a cintura escapular tem de se movimentar em harmonia, de modo que todos os movimentos do braço envolvem não só o ombro, mas um movimento da escápula em relação à parte posterior das costelas, e um movimento menos distinto, mas importante, nas articulações entre a clavícula e o esterno e o acrômio em cada extremidade delas. De pé, de costas para um espelho, olhando por cima do ombro, vemos as escápulas deslizarem para a frente, contornando o tórax ao esticarmos os braços para a frente. As escápulas deslizam na direção da coluna vertebral, quando levamos os braços para trás, estendendo os ombros.
A combinação de força e mobilidade no ombro permite os arremessos vigorosos, de modo que se pode projetar uma bola ou um disco e bater com violência e rapidez no críquete. O serviço e os golpes de smash no tênis levam-no a descrever um arco completo, torcendo a articulação, quando a raquete é levada para trás do pescoço e depois se aplica um poderoso impulso através da articulação ao se golpear a bola. Em esportes de combate, a mobilidade do ombro permite estender o braço em várias direções para agarrar ou atingir o adversário. No judô e na luta, a potência do ombro puxa ou empurra o adversário para a lona.
O ombro pode suportar grandes forças que tendem a separá-lo ou dividi-lo. Na ginástica, a suspensão nas argolas ou na barra alta divide o ombro através do peso do corpo somado ao efeito da gravidade. Uma parada de mão numa única mão coloca a carga total num ombro. Os halterofilistas sustentam grandes forças de compressão através dos ombros, quando erguem os pesos acima da cabeça em exercícios de arranque.
Dor no ombro
uma dor gradual em um ou ambos os ombros pode ser devida a uma entre várias causas. Para ajudar o médico a diagnosticá-lo com precisão, registre exatamentequando ela sobreveio, o que estava fazendo quando sentiu pela primeira vez , se ocorre à noite ou quando está em repouso, se piora ou alivia de acordo com situações identificáveis, se só acontece durante ou depois do esporte ou se é sentida em outros momentos. A dor no ombro pode ser devida a uma artrite inflamatória ou uma doença articular. Também pode ser reflexa, derivada de outras partes do corpo, por exemplo, de um problema no pescoço ou de uma condição afetando o diafragma, nosso principal músculo respiratório. Muitas vezes, embora se possa achar que a dor esteja especificamente no ombro, pode não haver absolutamente nada de errado na articulação. Um dos mais graves problemas relacionados com a dor no ombro é de natureza cardíaca. Por vezes, a primeira advertência de um problema do coração é uma dor que sobrevém, sem uma causa reconhecível, no ombro esquerdo.
Lesões no ombro
Estiramentos
Os músculos e tendões do ombro podem ser lesados por distensões, estiramentos e excesso de uso, ou por um bloqueio vigoroso a um movimento no instante em que os músculos estão se contraindo. O dano pode ser súbito e traumático, ou gradual e progressivo.
As lesões traumáticas no ombro ocorrem em esportes de contato e de combate, hipismo, ginástica e saltos ornamentais. Você pode cair desastradamente sobre a mão ou o cotovelo, provocando um estiramento na articulação; ser violentamente atingido no braço numa colisão com um adversário, por exemplo, no rúgbi, ou ao bloquear um lançamento no basquete; desequilibrar-se enquanto executa uma parada de mão em ginástica.
As lesões por excesso de uso estão normalmente associadas a esportes em que o ombro é utilizado de modo repetitivo ou contínuo. Os nadadores de competição produzem cerca de 80% de sua força de braçada através dos braços, e seu treinamento de serviços no tênis, de tacadas de golfe, de arco e flecha ou de arremesso no críquete ou no boliche, pode igulamente acarretar um estiramento dos músculos e tensões, que se tornam ineficazes pela fadiga.
O que se sente
Uma vez ocorrida a lesão, você sentirá a dor sempre que mover o ombro, fazendo o músculo ou o tendão lesado contrair-se ou relaxar-se. Se a lesão for na face anterior do ombro, a dor se manifesta ao contrair os músculos e tendões para levar o braço à frente ou virá-lo para dentro, e sente-se um puxão ao levar o braço para trás e retesar os mesmos músculos e tendões. Já quando a lesão é na face posterior do ombro, a contração dos músculos e tendões, para levar o braço para trás ou voltá-lo para fora, o retesamento dos mesmos ao estender o braço para a frente provocam dor.
Uma lesão nos deltóides, no topo do ombro, dói quando estendemos o braço lateralmente contra uma resistência.
O que aconteceu
Neste tipo de lesão, houve um estiramento ou ruptura parcialde algumas fibras musculares ou tendinosas na área afetada. Também alguns dos ligamentos que protegem o ombro podem ter sido danificados. Se você prosseguir com seu esporte e sentir dor na região lesada, provocará novos danos no tecidos afetados. Usando o ombro de forma desastrada, ao tentar evitar machucá-lo, sofrerá de um enfraquecimento quase imediato dos músculos que deixaram de trabalhar normalmente.
O ombro perde então estabilidade que deve a esses músculos e, com isso, seu funcionamento e sua amplitude de movimento normais. Isso cria, por si mesmo, um ciclo de fraquezaprogressiva e dor associada.
Ruptura do tendão do bíceps
O tendão do bíceps, que passa pela articulação do ombro e depois se une ao volumoso músculo bíceps, na face anterior do ombro, pode sofrer uma distensão, como os outros tendões da região. Entretanto, um estiramento grave pode rompê-lo por completo, gerando problemas particulares do ombro. Essa lesão ocorre quando o bíceps é bloqueado em forte contração, por exemplo numa situação em que o atleta está prestes a executar um lançamento com toda a sua força e um adversário lhe puxa subitamente o braço para trás. Ocorre, também, quando cargas excessivas criam uma pressão exorbitante no músculo, por exemplo quando um ginasta nas argolas se mantém na posição do Cristo, sustentado o peso de seu corpo graças ao poder de fixação isométrica da musculatura do ombro.
O que você sente é uma súbita "mordida" no tendão, que pode ser muito dolorosa no momento de sua ocorrência ou só mais tarde.
Os primeiros-socorros consistem em aplicações de gelo e uma tipóia caso ombro esteja muito dolorido. Logo que possível, recorra ao médico ou ao pronto-socorro. Talvez você encaminhado a um especialista ortopédico, para uma cirurgia de reparação do tendão, com seu reatamento ao osso, ou simples sutura das pontas rompidas, dependendo da forma da ruptura.
Bursite
O ombro possui muitas e grandes bolsas (bursas) para movimentos livres de atrito entre tendões e seus tecidos subjacentes. Cada uma delas poderá inflamar-se, porque você esteve usando o ombro de forma errada durante alguma atividade ou devido a uma lesão num tendão ou em alguma das outras estrutas articulares, que causou irritação.
Toda vez que você move o ombro de modo a contrair ou irritar a bolsa inflamada há uma reação de dor. No topo do ombro, a bursite provoca dor quando você estende o braço lateralmente ou quando volta para frente com a palma da mão virada para baixo. Estando a bursite localizada na parte posterior do ombro, a dor se manifesta pela torção do braço em ambas as direções. Pode haver também uma sensação de "mordida" num determinado ponto de movimento do ombro. Evite movimentos dolorosos durante um período de 2 a 3 semanas, para que a bolsa inflamada melhore.
É essencial não recomeçar o esporte cedo demais, para evitar que a bursite se torne um angustiante problema crônico. Depois de ter dado ao ombro repouso suficiente para que a inflamação ceda, eleabore um programa de execrcícios de mobilização e fortalecimento local, com a duração de 1 semana ou 2, começando com os fáceis, em pequeno número e aumentando gradualmente suas quantidades e dificuldades. Quando os exercícios funcionais puderem ser executados sem dor , você estará pronto para retomar seu esporte com segurança.
Entretanto, se surgir um problema recorrente com bursite no ombro, ou se, já de início, a situação se apresenta muito grave, o profissional de saúde poderá encaminhá-lo a um ortopedista para que a bolsa lesada seja removida cirurgicamente. Depois da operação, o cirurgião indicará quando você poderá começar a exercitar o ombro, cumprindo então um processo de recuperação com seu fisioterapeuta que envolverá o fortalecimento e o relaxamento graduais da articulação.
Luxação do ombro
A luxação de uma articulação significa que um dos ossos saiu de suas estruturas de fixação, causando dor, deformação e incapacidade. No ombro, o ápice do úmero salta de seu "encaixe" de ligamentos de tecido mole e de sua cápsula. O ombro é particulamente vulnerável a essa lesão, já que constitui uma articulação móvel e livre, e em muitos esportes está sujeito a violentos traumas. A única parte protegida por uma estrutura óssea é o topo, que está coberto pelo arco formadoentre a clavícula e a parte superior da escápula. O ápice do úmero pode ser empurrado para frente, para baixo ou para trás. Quando ele é deslocado violentamente, a cabeça arredondada do osso se rompe por completo a cápsula articular e seus ligamentos, bem como os músculos ou tendões circunjacentes. Mas, se o osso retorna a seu lugar imediatamente, o que ocorre é uma subluxação. Esse tipo de lesão acontece às vezes, quando cai de uma determinada altura, apoiado sobre a mão, estando esta num certo ângulo. No rúgbi , no judô ou na luta romana, o ombro pode sofrer facilmente uma luxação, quando o braço é estirado fortemente pelo adversário. Nos nadadores, a lesão acontece sob uma pressão relativamente fraca. Isto pelo fato de eles terem os músculos de um lado do ombro superdesenvolvidos, enquanto que os do outro lado ficam relativamente fracos. No nado de costas , são os da parte anterior os mais fracos, permitindo à cabeça do úmero resvalar para frente. Já no crawl a subluxação aocntece do lado inverso.
O que se sente
O deslocamento de um osso da articulação provoca a sensação de que o ombro está todo desconjuntado, e muita dor. Se o úmero permanece luxado, sente-se sua cabeça arredondada em protrusão e um espaço vazio no ombro. Se ele volta ao seu lugar, a sensação desaparece quase por completo, mas é possivel sentir ainda uma folga logo abaixo do topo do ombro.
Tratamento
No caso de uma lesão traumática, aplique gelo sobre o ombro e suspenda o braço numa tipóia em posição confortável. Não tente manipular o osso deslocado para normalizar a articulação, mas procure um médico ou um pronto-socorro de traumatologia para receber tratamento.
Se você sofreu a mesma lesão outras vezes, provavelmente o médico irá encaminhá-lo a um ortopedista, pois poderá precisar de uma cirurgia para recuperar a estabilidade do ombro.
Após a cirurgia, ou após a fase inicial de dor e incapacidade no ombro, você deve fortalecê-lo especificamente, antes de tentar praticar seu esporte de novo. Comece com exercícios isométricos e os dinãmicos mais simples, evitando aqueles que causem dor. Tente realizar duas sessões de meia hora por dia e fazer alguns exercícios isométricos de hora em hora, durante as atividades normais. Com o ombro mais forte, poderá dar início aos exercícios de alongamento e movimentação. Só retome seu esporte depois de ter recuperado o poder e a mobilidade totais no ombro e com o consentimento do especialista. Mantenha uma rotina diária de exercícios de fortalecimento do ombro, pois essa lesão tem fortes probabilidades de continuar acontecendo. Você poderá aceitar o fato de não poder prosseguir na prática de modalidades esportivas de alto risco, como o rúgbi, se houver recorrência, pois até mesmo a reparação cirúrgica traz poucas possibilidades de tornar a articulação suficientemente forte para enfrentar um trauma violento, embora a propicie normalmente estabilidade suficiente para esportes como a natação.
Complicações
Após uma lesão no ombro, você pode verificar que tem uma dor localizada e inflamação no topo do ombro se carregar um peso na mão. Isso pode significar que, junto com a do ombro, há também uma lesão na articulação entre a clavícula e a aresta da escápula. O dano causado pode variar desde uma distensão dos ligamentos que unem a articulação até sua ruptura total, mas o problema só será evidente depois que a dor no ombro tiver cessado. Se a lesão for grave, você sentirá a separação entre os dois ossos no topo do ombro. Uma vez diagnosticado e tratado o problema, inicie um programa gradual de exercícios, fortalecendo e depois mobilizando o ombro aos poucos, sem o forçar a ponto de sentir dor.
Exemplos de alguns alongamentos para casa (ombro congelado):
Fonte:
.Grisono, V. Lesões no Esporte. Ed. Martins Fontes, São Paulo 2000.
Imagens:
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