sábado, 10 de março de 2012

Diafragma



O DIAFRAGMA



DOWNEY, R. Normal Anatomy of the Diaphragm. Thorac Surgical Clinics, Vol. 21, pág. 273-270, 2011.

MAISH, S.M. The Diaphragm. Surgical Clinics of North America Vol. 90, pág. 955–968, 2010.

     
           

            O desenvolvimento do diafragma se inicia na sétima semana de gestação e está completo por volta da décima semana. Ele é derivado de quatro precursores embriológicos: o septo transverso, as membranas pleuroperitoneais direita e esquerda e o mesentério dorsal do esôfago. A sua última fase é a formação do componente neuro-muscular, onde as fibras musculares migram a partir do terceiro, quarto e quinto miótomos cervicais. Os nervos frênicos também decorrentes do terceiro, quarto e quinto nervos cervicais migram distalmente, completando a fase final do desenvolvimento do diafragma.
            O diafragma é uma membrana em forma de cúpula músculo-fibrosa que separa o tórax da cavidade abdominal. Tem uma porção muscular periférica e uma parte fibrosa central. Tem três grandes feixes musculares (esternal, costal e lombar) e um tendão fibroso central composto por três folhetos: direito, esquerdo e médio. As principais estruturas passam por três aberturas: a abertura da veia Cava (T8), o hiato esofágico (T10) e o hiato aórtico (T12). Além da aorta, o hiato aórtico  permite a passagem para o ducto torácico e a veia ázigo. O hiato esofágico permite a passagem  do esôfago e dos troncos vagais anterior e posterior.
           As origens do músculo são: anteriormente no esterno, lateralmente nas seis costelas inferiores e posteriormente nos ligamentos arqueados. Os pilares são feixes musculares posteriores que surgem a partir das vértebras lombares: o pilar direito de L1-L3 e o esquerdo de L1-L2.
         O suprimento arterial principal é realizado pelas artérias frênicas inferiores direita e esquerda. Um suprimento adicional é feito através das artérias mamárias internas direita e esquerda. As veias frênicas inferiores realizam a drenagem para a veia cava. 
           O diafragma é inervado exclusivamente a partir dos nervos frênicos direito e esquerdo, que se originam de C3-C4-C5. Esses nervos exercem tanto a função sensorial como a motora. Eles atravessam a cavidade torácica posteriormente e movem-se anteriormente sobre o pericárdio. Cada nervo divide-se em quatro troncos: antero - lateral, póstero-lateral, esternal e tronco crural. Eles penetram o diafragma cursando sua face inferior, sendo vistos novamente no abdome. Outras estruturas nervosas passam pelo diafragma, porém não fazem parte de sua inervação, como por exemplo os nervos esplênicos maiores e menores e os troncos simpáticos.
           A principal função do diafragma é a respiração, para isso é necessário que suas duas hemi-cúpulas estejam intactas. A lesão de um nervo frênico provoca a elevação desta cúpula diafragmática prejudicando a mecânica respiratória. O diafragma também tem funções não respiratórias, incluindo a separação da cavidade abdominal e torácica; auxilio na expulsão do vômito, fezes e urina através do aumento da pressão intra-abdominal e também de impedir o refluxo ácido, por meio de uma pressão sobre a parte inferior do esfíncter esofágico.
           Além de alterações congênitas ele também é sede de disfunções adquiridas e dentre estas, as hérnias diafragmáticas crônicas são bastante comuns.  Elas podem permanecer assintomáticas por meses ou anos após a lesão inicial. Em alguns casos é necessária a intervenção cirúrgica porque o conteúdo da hérnia pode ser estrangulado, levando a isquemia ou necrose do intestino, estômago, fígado, baço ou outros órgãos. 
         Sem dúvidas a principal função deste músculo é a respiração. Porém, sabemos que dentro de sua vasta funcionalidade o diafragma exerce outras funções importantes. Em ambos os artigos os autores relatam como função extra-respiratória o aumento da pressão intra-abdominal e a ação sobre a junção gastro-esofágica, entretanto, sua potencialidade vai além. 
          O diafragma apresenta uma importante função hemodinâmica, pois além de exercer uma pompagem sobre as vísceras e sobre todos os tecidos que estão conectados a ele, age como uma "pseudoválvula" auxiliando o retorno venoso. No momento da inspiração, suas fibras musculares  exercem uma tração sobre o orifício da veia cava, aumentando seu diâmetro. Além disso, a descida do diafragma aumenta a projeção horizontal deste orifício e facilita a subida do sangue.Na expiração, o relaxamento muscular permite que o orifício se feche parcialmente, impedindo a descida do sangue venoso. Desta maneira, contraindo e relaxando, o diafragma vai trabalhando como uma "bomba" venosa e também massageando e dinamizando o funcionamento das vísceras infra-diafragmáticas.
        Outra relevante função hemodinâmica está em relação ao coração. Na inspiração o pericárdio é estirado para baixo pelo diafragma e transversalmente pela caixa torácica. Na expiração, o diafragma sobe e o pericárdio relaxa. Essa alternância (tensão-relaxamento), vai agir sobre as paredes cardiacas e as coronárias contribuindo para um bom aporte sanguíneo ao coração.
          Mais um fato que nos mostra sua relevante importância para o bom funcionamento de todos os sistemas, é que além de ter uma estreita relação com o plano visceral, o diafragma também está conectado com todas as cadeias musculares.  Desse modo, ele pode parasitar ou ser parasitado, tanto pelo  plano muscular como visceral. Assim sendo, para que ele exerça suas funções de maneira qualitativa é imperativo que esteja livre de tensões. Se não está trabalhando de maneira eficiente é porque não pode fazer mais e não porque está fraco. Seu tratamento não consiste na reeducação ou no fortalecimento mas sim, na liberação do próprio diafragma e de todas as tensões que podem estar prejudicando seu funcionamento.
       

            "Devolva a liberdade de movimento, não importa a que estrutura, e elas retornarão totalmente às suas funções.” Leopold Busquet

         Murilo De Marco
      Professor assistente da Formação Busquet no Brasil

 
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