quinta-feira, 3 de novembro de 2011

MÉTODO GDS - CADEIAS MUSCULARES "VESTINDO" CADEIAS ARTICULARES



Começarei o texto de hoje com uma constatação que se sustenta em minha experiência de mais de 15 anos de profissão. As pessoas de um modo geral não percebem seu próprio corpo! Então, se as cadeias musculares "vestem" as cadeias articulares, vamos nos "despir" momentaneamente de nossos roupas musculares, para podermos chegar aos nossos ossos.

Frequentemente, observo o quanto é neglicenciada a abordagem terapêutica sobre o tecido ósseo. Nos pacientes, a falta da percepção do osso como uma estrutura viva e com certo grau de elasticidade, é até certo ponto compreensível. Afinal, os pacientes nos procuram com queixas, muitas vezes associadas à ausência de uma consciência de seu próprio corpo e de seu funcionamento. Por outro lado, agora com algumas ressalvas, também verifico que muitos profissionais ainda insistem em concentrar suas condutas na "performance" mecânica e nos exercícios segmentares de força e alongamento, como se isso criasse uma "reserva" para os nossos eventuais traumatismos e processos degenerativos.

Agora, você deve estar se perguntando, se o osso é tão importante para a nossa estruturação psicocorporal, por que o músculo tem tanto destaque nos trabalhos que envolvem o corpo?

O que precisa ficar bem claro é que existem diferentes objetivos dentro do que chamamos atividade física. Para essa análise, devemos separar aquelas atividades que se destinam à competição, daquelas que se propõem à "saúde física e mental". Esta última, por sinal, deveria estar mais voltada a construção e valorização de uma imagem corporal, a organização mecânica e a coordenação de um gesto justo. Todavia, não é isso que acontece. A hiper-valorização de uma estética da "moda", faz a pessoa "parecer" saudável, em vez de "ser" concretamente e integralmente são. Com relação as atividades competitivas, chegará o momento de abordarmos, nesta coluna semanal, as diferentes tipologias psicocorporais e os seus terrenos de predisposição para diversas patologias do sistema locomotor. 

Poderíamos aproveitar a reflexão acima para voltarmos ao assunto dos potenciais de base. Isso seria uma maneira bem interessante de analisar como estruturamos a imagem do corpo em nós, a partir de nossos vazios. Mas não me estenderei, hoje, nestas questões. Sobre este assunto, deixo um convite para a leitura da dissertação de mestrado da Educadora Física Wanja de Carvalho Bastos - A epidemia de Fitness: uma questão de saúde pública (Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - Fiocruz). A autora descreve, em sua dissertação, a transformação dos hábitos e comportamentos da sociedade, uma vez que, hoje, o significado de saúde ficou reduzido à promoção, a qualquer preço, da saúde de um corpo e não do indivíduo. Tudo isso com o endosso da ciência e da mídia de massa. Vale muito a pena ler este trabalho!
http://bvssp.icict.fiocruz.br/lildbi/docsonline/get.php?id=2162

Voltando ...

Quando solicito ao meu paciente que descreva como ele percebe sua estrutura óssea, dentro si, frequentemente o silêncio se instala no ambiente. Muito raramente, ouço que é duro e branco, quase passando uma idéia de algo "morto". Embora isso não seja verdade, mesmo assim fico contente pela verbalização de uma sensação. Agora, é possível ajudarmos a construir um novo significado a algo que teoricamente "nunca existiu" ou pelo menos, jamais revelou ter uma grande importância. O osso, na verdade, é um dos tecidos mais metabolicamente ativos do corpo, ou seja, ele é "muito" vivo. É preciso que todo terapeuta não se esqueça que "o osso carrega em sua forma o traço do movimento que o músculo imprime nele" (Philippe Campignion). Isso significa que o osso grava, em si, o percurso de uma vida que não é linear, nem tampouco previsível.

Alain d`Ursel, grande colaborador do Método GDS, diz que o corpo imita o que pensamos dele. Todas as manhãs nós nos vestimos das mesmas tensões. As atitudes e os gestos são repetidos, idênticos. Eles se inscrevem nos ossos, o que, eventualmente, prejudicará as nossas articulações. As solicitações são sempre nos mesmos lugares e, nesse momento, a cumplicidade entre os ossos e os músculos se perde.

 
Na verdade, precisamos tanto dos músculos quanto dos ossos. Porém, cada um tem sua função dentro do que consideramos globalidade. A análise morfológica do corpo pelo Método GDS se apoia em uma avaliação da postura estática para podermos entender os distúrbios da dinâmica. Para isso, o terapeuta observará, em seu paciente de pé, a pulsão psicocorporal (abordarei esse conceito na próxima ocasião), analisará as marcas corporais e, em seguida, fará os testes de elasticidade. É importante lembrar que, quando nos referimos à dinâmica, um músculo pode alternar a todo momento o seu ponto fixo em função da ação desempenhada. Mas, ao falarmos em estática, estaremos nos referindo a um comportamento entre estruturas. 

Antes de observamos as marcas impostas pelos músculos, precisamos saber que elas podem se apresentar com 3 diferentes características. Quando um músculo desempenha seu papel fisiológico, estaremos nos referindo a uma "marca útil". Teremos uma "marca aceitável" quando ela estiver coerente com a estrutura psicocorporal do indivíduo e ainda permitir uma certa liberdade articular. Entretanto, é muito importante que ela não esteja gerando nenhum conflito com as demais cadeias musculares. Estaremos diante de uma "marca desorganizante" se esta estiver colocando em risco a possibilidade de uma outra cadeia muscular imprimir, em determinado segmento corporal, a sua "marca útil". Ao constatarmos a existência de uma "marca desorganizante" nunca trabalharemos uma cadeia muscular isoladamente. Nosso objetivo será ajustar a relação de controles entre todas as cadeias, no que chamamos de penta-coordenação. Para Alain d`Ursel, (...) "as cadeias musculares são como as cordas de um instrumento de música esticadas sobre uma estrutura óssea sensível que interage com as variações de pressão".


Qual é a imagem que temos de nossos ossos? Afinal, o corpo funciona a partir da imagem que eu tenho dele. Correto? Agora, precisamos reconstruir esse osso dentro de nós, para podermos ajustar as imagens que temos de nós mesmos !


Godelieve Denys Struyf definiu a organização do corpo humano em Cadeias Articulares unidas por Cadeias Musculares.

Então, o que seria uma Cadeia Articular? Philippe Campignion, diretor mundial da Formação Biomecânica do Método GDS, define que uma Cadeia Articular é um conjunto de articulações que são dependentes uma das outras em seus deslocamentos. Para Piret e Béziers, uma cadeia articular, revestida por suas cadeias musculares, constitui uma unidade motora. 

Resumindo: Cadeias Articulares (articulações interdependentes) + Cadeias Musculares (estruturas "psico + motoras") = Diversos modos de funcionamento (Posturas).


Para quem nunca pensou que podemos ter diferentes posturas, e que não existe uma única postura "ideal", deixo essa curiosidade para o nosso próximo encontro. Nessa oportunidade, conversaremos sobre o equilíbrio do homem de pé e as diversas possibilidades posturais.


Bibliografia

. d`Ursel A. Nos os sont élastiques: sens et conscience protègent nos articulations IN: Inforchaînes: La revue des praticiens de la Méthode G.D.S. Bulletins trimestriels édités et diffusés par les APGDS, France e Belgique: 2 ème semestre 2010 (p.8-11)

. Bastos W. C. A epidemia de Fitness: uma questão de saúde pública. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - Fiocruz


Alexandre de Mayor.

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