quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Pilates e psicologia corporal




Pilates é um programa de treinamento físico e mental que considera o corpo e a mente como uma unidade e dedica-se a explorar o potencial de mudança do corpo humano.
O principal músculo da respiração é o diafragma. Ele está conectado à coluna em diversos pontos, desde o topo até a base. além disso se conecta também com músculos, como os abdominais, órgãos internos, além dos nervos, veias e artérias. O músculo diafragmático tem sua primeira contração no momento do nascimento (passagem da vida fetal para extra-uterina), impulsionando o ato respiratório, a circulação e a digestão e intervindo diretamente na fonação.
Um diafragma inibido, que não funciona bem, pode afetar todos estes sistemas e causar uma série de problemas como, por exemplo, dores nas costas, distúrbios gastrointestinais, cefaléias e a própria ansiedade.
Este bloqueio do diafragma, além de estar relacionado a condições de vida, foi se formando durante todo o processo de desenvolvimento infantil. A maioria da educação que recebemos e, até mesmo que transmitimos, é sempre permeada de repressões. O indivíduo, sem poder seguir seu próprio ritmo de desenvolvimento e se expressar sem medo, acaba bloqueando o diafragma e criando a ansiedade que, é "o temor da ocorrência de um perigo ou de uma punição". O bloqueio diafragmático faz com que a pessoa desenvolva o traço caracterial masoquista, capaz de transformar o prazer em desprazer.
O medo da explosão do masoquismo faz com que ele prenda a respiração na ansiedade e suporte até certo ponto, onde será necessário expirar. Dessa forma, o trabalho realizado pelo psicólogo corporal (na vegetoterapia caractero-analítica), a nível diafragmático é centrado na respiração. A ansiedade leva o indivíduo a desenvolver uma atitude respiratória de tipo inspiratório. Assim, a vegetoterapia está voltada particularmente a função expiratória.
O corpo contém a história do indivíduo e é por meio dele que a vegetoterapia busca resgatar emoções e lembranças mais profundas, a fim de restabelecer a motilidade biopsíquica por meio da anulação da rigidez da musculatura.
Uma respiração otimizada, mobiliza a coluna vertebral na região do tórax, que provoca a mobilização do sistema nervoso autônomo que, dentre tantas outras atividades, é responsável pela digestão, reprodução, sono e relaxamento.

Piaget foi um dos grandes estudiosos da Psicologia do Desenvolvimento; dedicou-se exclusivamente ao estudo do desenvolvimento cognitivo, quer dizer, à gênese da inteligência e da lógica. Ele concluiu pela existência de quatro estágios ou fases do desenvolvimento da 3 inteligência. Em cada estágio há um estilo característico através do qual a criança constrói seu conhecimento. Vejamos:

•  Primeiro estágio Î Sensório motor (ou prático) 0 – 2 anos: trabalho mental: estabelecer relações entre as ações e as modificações que elas provocam no ambiente físico; exercício dos reflexos; manipulação do mundo por meio da ação. Ao final, constância/permanência do objeto. 
•  Segundo estágio Î Pré-operatório (ou intuitivo) 2 – 6 anos: desenvolvimento da capacidade simbólica (símbolos mentais: imagens e palavras que representam objetos ausentes); explosão linguística; características do pensamento (egocentrismo, intuição, variância); pensamento dependente das ações externas. 
•  Terceiro estágio Î Operatório-concreto – 7 – 11 anos: capacidade de ação interna: operação. Características da operação: reversibilidade/invariância – conservação (quantidade, constância, peso, volume); descentração/capacidade de seriação/capacidade 
de classificação. 
•  Quarto estágio Î Operacional-formal (abstrato) – 11 anos... A operação se realiza através da linguagem (conceitos). O raciocínio é hipotético-dedutivo (levantamento de hipóteses; realização de deduções). Essa capacidade de sair-se bem com as palavras e essa independência em relação ao recurso concreto permite: ganho de tempo; aprofundamento do conhecimento; domínio da ciência da filosofia. 

Quanto à afetividade, o psicanalista Sigmund Freud afirmava que os dados fornecidos pela psicanálise têm consequências importantes para a compreensão das relações inter-humanas, principalmente ao mostrar que o objeto de relação é um objeto individual construído pelo mundo interno fantástico (de fantasia) variando com nossos investimentos e em função de nossa história e de nossos estados afetivos.
Pode-se ainda destacar os estudos realizados por Henry Wallon, o qual não separou o aspecto cognitivo do afetivo. Seus trabalhos dedicam um grande espaço às emoções como formação intermediária entre o corpo, sua fisiologia, seus reflexos e as condutas psíquicas de adaptação. A atuação está estritamente ligada ao movimento, e as posturas são as primeiras figuras de expressão e comunicação que servirão de base ao pensamento concebido, antes de tudo, como uma das formas de ação. Segundo Wallon, o movimento é a base do pensamento. É a primeira forma de integração com o exterior.
O Pilates otimiza a respiração e potencializa a capacidade respiratória. Em todos os exercícios a respiração é enfatizada como instrumento para atingir qualidade na execução dos movimentos. O contrário também acontece, pois movimentos adequados com a região do tronco estimulam e ampliam a entrada e saída de ar nos pulmões. 
O trabalho desenvolvido na vegetoterapia juntamente com a prática do Pilates praticados pelo paciente ansioso poderá auxiliá-lo a enfrentar melhor a sua ansiedade, na medida em que a capacidade respiratória (principalmente expiração) é modificada.
Se o indivíduo ansioso é capaz de aprender a expirar, podemos, até certo ponto, modificar a sua condição energética diafragmática onde a ansiedade está contida. O Pilates mobiliza a musculatura desta região e, na medida em que a respiração é solicitada durante a execução dos exercícios, esta se torna um ato voluntário e consciente. Esta condição de consciência auxilia a pessoa ansiosa a perceber sua respiração superficial e irregular, muitas vezes apontadas pelo psicoterapeuta da clínica. Quando o indivíduo chegar para o trabalho clínico com o psicoterapeuta já tomou consciência da qualidade da sua respiração e do quando está inspirando e expirando, o que por consequência irá auxiliar em muito no trabalho da vegetoterapia. 
Assim, seja na execução dos exercícios propostos no método Pilates, a solicitação de uma expiração completa estará sempre presente, contribuindo para liberar a ansiedade contida no diafragma destes indivíduos.
Apenas na prática clínica poderá validar a relevância desta proposta de trabalho interdisciplinar entre o psicólogo corporal e um profissional habilitado no método Pilates no auxílio ao indivíduo com ansiedade. Porém, a teoria apresenta argumentos positivos, que se considerados, poderão beneficiar e somar aos trabalhos já realizados em casos de ansiedade.


Fonte:

  • Rosset, J. Psicologia Corporal e Pilates: Trabalhando contra a ansiedade. Trabalho de curso de Especialização em Psicologia Corporal. Centro Reichiano, 2009. 

  • Krueger, M.F. A relevância da afetividade da educação infantil.

Imagem:

  • Google


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