quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Uma proposta de inclusão do método GDS no tratamento multidisciplinar da anorexia nervosa



Este artigo propõe a inclusão da terapia corporal baseada no método GDS no tratamento multidisciplinar da anorexia nervosa. A conduta usual do tratamento esta relacionada com a sua complexidade. A etiologia dos transtornos alimentares é constituída por um conjunto de fatores em interação, que envolvem componentes biológicos, psicológicos familiares e sócio-culturais. Tais aspectos determinam as dimensões necessárias na abordagem do tratamento desses transtornos. Isso porque a complexidade da condição clínica exige uma abordagem integrada e multiprofissional. Uma equipe composta por psiquiatra, clínico geral, psicólogo e nutricionista é o alicerce do tratamento, sobretudo em esquema ambulatorial e hospitalar. 
Existem três categorias de transtornos alimentares: anorexia nervosa (AN), bulimia e obesidade. O foco deste artigo será na anorexia nervosa, que é um transtorno alimentar caracterizado principalmente pela limitação da ingestão de alimentos devido à ideia "obcecada" de ser magra, aliado a um medo exarcebado de se ganhar peso chegando ao extremo de recusa alimentar. 
Segundo o DMS IV, a AN é caracterizada por: perda acentuada de peso, medo mórbido de engordar e alterações endócrinas.
O SID. -10 descreve como:
- o peso corporal é mantido em pelo menos 15% abaixo do índice de massa corporal esperado
- a perda de peso é auto-induzida
- transtornos endócrinos generalizados, hipotalâmico-hipofisário-gonadal.
- distorção de imagem corporal 
- início geralmente puberal.
Basicamente, na literatura médica, distingue-se dois tipos de anorexia nervosa: a do tipo restritivo e a do tipo compulsão periódica/purgativa. Na grande maioria, são mulheres que mesmo após perder muito peso, ainda permanecem com esse medo de engordar. A imagem corporal que elas possuem de si apresenta-se distorcida: mesmo estando magras, se percebem "gordas".
Estão presentes nesses transtornos rituais diários de controle de peso: pesar-se várias vezes ao dia, fazer medições do corpo e calcular a quantidade de calorias ingeridas. A manifestação pode variar de leve até casos fatais e é considerada pela psiquiatria uma "doença mental", mas com consequências físicas certíssimas e muitas vezes irreversíveis, que atinge 90% mulheres.
O corpo, na anorexia, quando na ausência de calorias, passa a se alimentar de suas próprias proteínas alimentares, ocasionando irregularidades no ritmo cardíaco ou mesmo uma insuficiência cardíaca. Apresentam queixas de constipação intestinal, dor abdominal, hipotermia (intolerância abaixo temperatura ambiente), pele ressecada e de aparência pálida, amenorréia (nas mulheres), diminuição do útero. Há também os sinais comportamentais que denotam uma grande preocupação: dificuldade de comer na presença de outras pessoas, hábitos alimentares diferentes como cortar o alimento em pedaços minúsculos , perfeccionismo, depressão, irritabilidade, mudanças constantes de humor, isolamento social, manias obsessivo-compulsivas (limpezas, organização...) e dificuldades de relacionamento.
Apesar de vários "grupos de risco", vemos cada vez mais casos de anorexia associados ao mundo da moda e dança, profissionais que tem alta exigência de que o corpo seja "magro e esguio". O padrão de beleza atual é rígido e cruel. Mulheres ávidas por um corpo esbelto e sem curvas travam uma verdadeira luta com seu próprio corpo.
A mulher moderna, sob ponto de vista sócio-cultural, está diante de uma enxurrada de informações veiculadas principalmente pela mídia que traz a seguinte mensagem: temos que ser  belas, jovens e saudáveis! Graças também a elas, convivemos com a tirania da perfeição física e do não envelhecimento. As revoluções femininas apontam conquistas e também armadilhas. Ao mesmo tempo em que a mulher conquistou o mercado de trabalho e a liberdade de escolha quanto ao momento da maternidade, existe hoje a busca de um corpo perfeito e, ainda que de uma forma diferente, a mantém num lugar de submissão. "Na contemporaneidade, o corpo idealizado é o corpo do consumo, nisso o sujeito é inserido na engrenagem de um sistema de consumo que lhe impõe ter desejos. Desejos que não deverão ser nunca satisfeitos, pois é do desejar sempre mais, sempre outra coisa, que esse sistema de consumo se alimenta. Já não se trata da máquina de produção que se alimentava de corpos, mas da lógica do consumo que alimenta sujeitos nunca saciados. 
Com isso, no lugar do indivíduo anônimo se instala o valor do indivíduo diferenciado, que se destaca dos outros, de imediato, pela sua aparência. Uma aparência da qual se assume ser a vitrine mais evidente e inequívoca do sujeito. Em pleno domínio da ditadura da aparência".
O ideal de beleza feminina passou a valorizar a busca de uma identificação com aquelas mulheres lindamente penteadas, maquiadas e magérrimas que a mídia faz questão de mostrar e não com a busca de uma identidade e de um corpo, que são individuais. Na busca de um ideal nos perdemos nos corpos do parecer. A beleza tornou-se um dever moral, saiu do âmbito físico.

A onda da consciência deve ser vivenciada em uma determinada cronologia: existir, construir e agir, ou seja, AM, PA e PM.
Para a autora a doença não existe, o que existe é uma dificuldade em realizar o projeto de base. E os transtornos alimentares tem ressonância com a não realização de um projeto PA (póstero-anterior), um ideal a ser construído e alcançado, de beleza, eixo e de ser. 
A primeira onda AM (ântero-medial), da criança, é vivida na família. Mas é na adolescência que se inicia a segunda onda PA-AP (sexualidade). Por isso, para se vivenciar esta estrutura, a anterior deve estar alimentada, dando base para esta construção.
Portanto, na anorexia poderíamos pensar na falta de uma boa maturação da estrutura AM, que é a estrutura responsável pela formação do ego e que dá a noção de existir, intimamente ligada à sensação corporal. O AM precisa de presença física, contato e estrutura. Tem urgência em sentir-se a si mesmo. Busca "um invólucro que lhe dê segurança, construído de múltiplas maneiras no seio do casulo familiar, ao redor da filiação racial, de suas tradições e ritos ancestrais. 
Está ligada ao reconhecimento de si, e ao sistema imunológico, com a "ajuda" de outra estrutura (AL).
No bebê, o sistema cenestésico predomina de modo absoluto, é a idade da mais profunda não-diferenciação, na qual o afeto e o percepto ainda são um só. Mas somente em idades subsequentes que poderemos compreender o papel desempenhado pelos afetos na percepção.
A sensibilidade mais a imagem conduzem ao gesto justo.
a ausência de imagens é, para o cérebro, uma ausência de referência que comporta um risco de exatidão.
A boa construção do eixo e da individualidade depende de imagens justas e de uma sensibilidade corporal desperta. 
Na anorexia, o corpo desencarnado "pede" a construção integral da unidade corpo/mente. Unidade esta que necessita da construção de uma bacia (base) para o crescimento do eixo vertebral, necessita a validação sensória para a construção da individualidade. Gerando um desenvolvimento com independência e com intimidade (com os outros e com si mesmo).  

Fonte:
  • Revista Olhar GDS, As cadeias musculares GDS e suas aplicações terapêuticas, 2007, nº1.
Imagem:
  • Google

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