sábado, 17 de setembro de 2011

MÉTODO GDS - DISCUTINDO A RELAÇÃO ... MECÂNICA DA BACIA



Antes de casar, sempre escutei que toda relação passa por momentos de "crise". Me lembro como se fosse hoje, um amigo me revelando que estava vivendo a crise dos 7 anos de casamento. O tempo passou e, como quem tem hora marcada no consultório, a crise bateu na minha porta. Foi aí que minha esposa e eu constatamos que, de fato, esse período existe. É a mais pura verdade! Por isso eu vou te mostrar alguns sinais e sintomas.
Motivado por esse projeto de construir uma família, todo casal debutante vai às compras e adquire uma nova geladeira para comportar uma maior quantidade de alimentos, uma televisão e um "home theater" para poder curtir melhor os momentos a dois. Conclusão, o casal se endividará para deixar a casa "novinha". Mas toda alegria dura pouco ! Acontece que esses aparelhos têm um tempo de validade. Eles fazem parte da mesma central sindical e a data da assembléia geral, por coincidência, foi marcada para o dia do seu 7º aniversário de casamento. Por unanimidade, todos decidirão se quebrar ao mesmo tempo. Quando o "caos" se instalar em sua casa e vocês estiverem diante de decidir suas prioridades, muita coisa se revelará.
- Televisão ou geladeira ?
- Eu não vivo sem os comentários esportivos do domingo à noite !
- Tudo bem, vai beber cerveja quente com os amigos !

Posso dizer que minha família superou esse problema. Refletimos juntos e concluímos que a crise não é nossa, é dos eletrodomésticos, que têm vida própria e coabitavam a nossa casa como se fossem os verdadeiros proprietários. Eles são "zumbis" iguais ao do vídeo clip Thriller de Michael Jackson. Essa semana, a geladeira e o depurador de ar do fogão fizeram um divórcio litigioso. Desde então, tivemos que aceitar 2 novos inquilinos. Só não sei até quando vai durar essa nova relação.

O tema deste texto era ... Lembrei! Discutindo a relação ... mecânica da bacia. Ah... e no último texto prometi escrever sobre a nutação e contra-nutação sacro-ilíaca.



Então... a bacia é a residência de AM.
O tronco está em perda de equilíbrio para trás, a atividade de grupos musculares anteriores que garante o equilíbrio. São principalmente os músculos anteriores e medianos do tronco, por isso a abreviatura AM. O corpo parece querer recuar ou apoiar-se contra uma parede, ou sentar-se. Tem ligação com afetuosidade, acolhimento, posição fetal (STRUYF, 1995).
Os músculos do períneo são os proprietários desta casa que tem três andares. É um lugar sólido e bastante espaçoso. Não pense você que, por causa disso, eles vivam confinados. Pelo contrário, eles estão sempre recebendo a vista de alguns amigos. PM, por exemplo, é um visitante sempre bem vindo, desde que não se exceda em suas ações. Afinal de contas, é de sua responsabilidade a manutenção desta casa de pé. PM tem seu feudo nos membros inferiores para verticalizar os ilíacos e o sacro. Por sua vez, o músculo transverso do abdome de PA-AP e ilíaco de AP estabelecerão um antagonismo complementar com o glúteo mínimo de AL, para controlar a abertura das asas ilíacas no plano frontal. Inclusive, tanto AL quanto PL têm seus pivôs primários da pulsão psicocomportamental na articulação do quadril.

Aliás, vale a pena voltar à questão da assimetria fisiológica. Eu ainda não tinha mencionado que nossas cadeias musculares são duplas, o que temos do lado direito, teremos também do lado esquerdo, a menos que encontremos alguma agenesia muscular. Mesmo levando isso em conta, é preciso saber que existe uma dominância de AM, AL e PA à direita, enquanto PM, PL e AP prevalecem à esquerda. Esta assimetria fisiológica se deve à disposição das vísceras. Por essa razão, no plano frontal, observaremos a asa ilíaca mais frontalizada à direita pela ação útil do glúteo mínimo (AL). Este músculo ainda agirá na flexão e rotação interna do quadril se estiver em excesso. Em compensação, verificaremos a ação do quadrado femoral mais marcante à esquerda, realizando conjuntamente a abertura do ísquio e a rotação externa de quadril. É essa ação que faz do quadrado femoral um amigo confidente dos donos da casa. Ele é quem aconselha, em seu feudo (articulação do quadril), os músculos do períneo a não se trancarem em sua casa. AL, por outro lado, tem seu feudo na cintura escapular, mais ativo à direita. Seu representante é o latíssimo do dorso. A marca útil fisiológica deste músculo é a ancoragem da cintura escapular à bacia, o que controlará PL nos membros superiores.

A bacia se localiza em um região central do corpo. Por esse motivo é importante transmitirmos aos nossos pacientes e alunos a imagem de uma casa e a sensação de um local bem estruturado em sua solidez. É um grande engano pensar que os pés são a nossa base ! Afinal, nossos membros inferiores precisam responder aos nossos constantes desequilíbrios, como ocorre durante a marcha, para podermos levar nossa casa sempre conosco. Essa residência não gosta de muita "agitação", embora seja um território de muita passagem de tensão mecânica. Portanto, sua principal característica é não ter "bagunça". Para isso, é necessário mantermos a casa sempre arrumada, organizada. Já tivemos oportunidade de discutir que as massas (pélvica, torácica e cefálica) são zonas de resistência. Quando elas assumem um comportamento mais elástico é porque as alavancas (intermassas) não estão cumprindo a ação de adaptabilidade e ajustamento. O contrário também é verdadeiro, intermassas fixadas obrigando as massas a se tornarem elásticas e compensarem a ausência de mobilidade. Não esqueça de que as articulações sacro-ilíacas e a sínfise púbica funcionam como juntas de dilatação e, por essa razão, não permitem movimentos em grande amplitude. Mas isso tudo só funciona segundo algumas "regras de convivência": todos os amigos precisam se respeitar em suas individualidades e, o mais importante, ninguém pode se atrever a dar ordens aos donos da casa !

Agora, vamos para um assunto que sempre gera algum tipo de confusão. A nutação e contra-nutação sacro-ilíaca. Acredito que a dificuldade na compreensão dessa mecânica seja colocar, no mesmo cenário, o movimento sacro-ilíaco com o que ocorre na articulação do quadril. É importante lembrar que quando estudamos em um livro de fisiologia articular, como por exemplo o Kapandji, didaticamente os movimentos articulares são descritos de forma isolada. Mas, se pensarmos nas tipologias GDS, tudo ficará mais fácil. Você verá !

Nossa referência é a estrutura psicocorporal PA sem excesso. No plano sagital, todas as massas estão alinhadas ao eixo vertical GDS. A oitava vértebra torácica está no ápice da cifose e as intermassas (as lordoses funcionais) estão corretamente ritmadas por AP e, portanto, pouco acentuadas. Importante! Nosso raciocínio é "estático" para podermos entender a dinâmica e os terrenos de predisposição. A bacia que funciona em PA vista sagitalmente, tem a espinha ilíaca ântero-superior (EIAS) e o púbis alinhados a uma vertical com o solo. Além disso, uma segunda linha que passa pelas vértebras sacrais (S1 e S2) formam, com a linha descrita anteriormente, um ângulo de 51 graus.

Diferente de PA que está perfeitamente alinhada ao eixo vertical e "aponta" em direção ao céu como uma flecha, AP tem suas massas "desmontadas", fazendo um "zig-zag" neste eixo de referência. Isso se deve à ausência de atividade muscular. Todavia, observamos que, tanto a bacia como as demais massas, não perdem sua horizontalidade. AP deveria funcionar em alternância com PA, como na respiração fisiológica. Porém, existe, uma terceira atitude postural, PA-AP. Neste caso, PA toma conta da massa cefálica e torácica, enquanto AP desenvolve a hiperlordose lombar e anteverte globalmente toda a pelve.


No "andar de cima", observamos em PA-AP uma hiperpressão torácica, ou seja, tórax bloqueado em inspiração. Philippe Campignion aponta que "os pilares do diafragma, beneficiando-se de um ponto fixo superior, graças à fáscia endotorácica, que é mantida elevada pelo recuo da coluna cervicodorsal, mantém a região de D12 a L3 para frente e para cima". Já no "andar inferior", hiperpressão abdominal e diástase dos retos do abdome. O músculo psoas (AP) não é mais capaz de manter a ritmicidade da intermassa e assume um ponto fixo no fêmur. Embora o diafragma e o psoas estejam com pontos fixos em sentidos opostos, eles acabam agindo sinergicamente para levar toda a coluna lombar para frente. Nesse caso, teremos a confirmação de uma "verdadeira lordose", de D12 até L5. O músculo ilíaco, também da cadeia AP, sustenta esse quadro e anteverte toda a bacia. Os joelhos, por sua vez, são levados ativamente em recurvatum, uma vez que, o músculo reto anterior do quadríceps femural aproximará suas inserções, reforçando ainda mais a báscula anterior da bacia e, também, agindo na ascensão da patela. Acabei de descrever uma atitude postural onde a bacia está antevertida globalmente. No segmento pélvico, a ação apontada ocorreu estritamente na articulação do quadril. O osso sacro, por sua vez, acompanhou conjuntamente esse movimento sem qualquer modificação em sua articulação com o ilíaco.

As cadeias musculares que agem sobre o osso sacro poderiam entrar nessa estória. Quem age sobre esse osso são as cadeias AM e PM, cadeias musculares do eixo estrutural. Mas, antes de pensar em colocar AM - PM e AL - PL, estas duas últimas que fazem parte do eixo relacional e, por isso, tem ação sobre o ilíaco, tente entender como cada uma participa mecanicamente na organização da bacia.


Vamos lá ....

O que AL faz na bacia ? anteversão do ilíaco e frontalização da asa ilíaca. O que é isso ? Observe como referência a espinha ilíaca ântero-superior (EIAS). Então, no plano sagital a EIAS estará mais baixa e em uma visão frontal, afastada lateralmente em relação à linha média do corpo. Essa marca se deve, principalmente, à ação do glúteo mínimo. Porém, se este músculo estiver em excesso, observaremos a aproximação de suas extremidades (corda de arco). Em vez de assumir, somente, um ponto fixo mecânico no fêmur, veremos também a rotação interna com flexão e adução. Nessas duas situações, o eixo de referência foi o da articulação do quadril. Vamos por isso em prática. Faça um "X" com seu antebraço. O antebraço esquerdo corresponde ao osso ilíaco e o direito ao sacro. A interseção dos antebraços é a articulação sacro-ilíaca. O cotovelo esquerdo é a articulação do quadril. Você vai movimentar somente o braço esquerdo (ilíaco) na direção da aproximação dos cotovelos. Acabaste de realizar a anteversão do ilíaco. Primeiramente, tente acompanhar o raciocínio. O músculo glúteo mínimo tomou ponto fixo no fêmur antevertendo o ilíaco. Mas o que aconteceu na interseção (articulação sacro-ilíaca)? Alterou a posição? Isso foi uma contra-nutação do ilíaco. Apenas do ilíaco! Duas ações. Uma no quadril, a anteversão do ilíaco e a outra na articulação sacro-ilíaca, a contra-nutação do ilíaco.

Vou colocar uma AM no excesso para verticalizar o sacro. Mas desta vez o ilíaco não terá a ação excessiva de AL. Cruze novamente os antebraços e mova apenas o antebraço direito no sentido da aproximação dos cotovelos. Agora você acabou de realizar uma contra-nutação do sacro. Percebeu o que aconteceu na interseção? Finalmente, AL e AM juntos... Então, anteversão da bacia e contra-nutação do sacro e do ilíaco.

Tarefa número 1 para consolidar o conhecimento, afastar os cotovelos. Neste caso o antebraço esquerdo será a PL, enquanto o direito a PM. Não esqueça que com PL, ocorrerá movimento na articulação do quadril. Sendo assim, você precisa visualizar o que acontece, também na sacro-ilíaca. Faça somente a retroversão do ilíaco (PL). Também teve uma modificação na relação do ilíaco com o sacro (nutação do ilíaco). Certo ? Depois, faça apenas a nutação do sacro por PM. Finalmente os dois movimentos simultâneos, retorversão do ilíaco com nutação do sacro e do ilíaco. Irei propor um outro exercício. Como seria AL com PM? Aproveite para fazer todas as combinações possíveis. Para fecharmos este raciocínio, quais os músculos envolvidos nas diferentes formas de organização da bacia? Quais seriam as estruturas que estão sobrecarregadas em cada uma destas combinações? Quem vai prestar "socorro" diante das diferentes hiper-solicitações mecânicas?

Para concluir deixo a minha sugestão para uma futura análise de alguns distúrbios que acometem a bacia, a região lombo-sacra, o púbis e a articulação do quadril. Sempre peça licença antes de entrar em qualquer casa. Principalmente, quando for de uma pessoa que você não conhece bem. Tente entender como a casa funciona antes de propor mudanças na decoração. Uma casa AM vai ser bem diferente de uma casa PM. Ou melhor, o que é fisiológico para uma pessoa pode não ser para uma outra. Lembre que por trás da organização de nossa "casa pélvica" existe um psicocomportamento. Nossas estruturas corporais não funcionam como os eletrodomésticos. Afinal, diferentes destes, quando "quebram", não as podemos jogar no lixo ! Cada casa pode funcionar com algumas características muito particulares. Sendo assim, busque encontrar as relações de controle que mantenham uma boa afinidade entre todos os seus convidados.

Alexandre de Mayor.

Bibliografia

. Campignion P. Aspectos Biomecânicos - Cadeias Musculares e Articulares - Método G.D.S. - Noções Básicas. São Paulo: Summus; 2003.

. Campignion P. Respir-Ações. São Paulo: Summus; 1998.

. Denys-Struyf G. Les chaînes musculaires et articulaires. Bruxelas: SBORTM (société belge d`ostéopathie et de recherche en thérapie manuelle); première édition 1979.

. Denys-Struyf G. La déformation des articulations sacro-iliaques, incidence sur la physiologie et les algies de la lombo-sacrée. Bruxelas: SBORTM (société belge d`ostéopathie et de recherche en thérapie manuelle); 1983.

. Kapandji IA. Physiologie articulaire: schémas commentés de mécanique humaine. Paris: Maloine; 1999.

Fonte: http://www.apgds.com.br/homolog/

 
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