quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Gestante X RPG


A gestação caracteriza-se por vários aspectos ligados a modificações pelas quais passam o corpo da mulher durante o período gestacional. A fisiologia da gestante fica alterada, resultando em variações físicas, hormonais, respiratórias e emocionais. Dentro das alterações físicas ocorrem modificações nos órgãos reprodutivos e mamas; o aumento de peso corporal e transtornos osteoarticulares e musculares. Dentro das hormonais há a ação da progesterona sobre a distribuição iônica e o potencial de ação da membrana celular no miométrio, acarretando bloqueio da atividade contrátil da musculatura uterina; da relaxina, que produz síntese de colágeno e é a principal responsável pela frouxidão ligamentar; e do estrogênio, que é visto como responsável pelas alterações mamárias, pigmentação cutânea, crescimento do útero, aumento da contratilidade uterina e retenção de água e eletrólitos. As alterações respiratórias são descritas pelo aumento do volume minuto e volume corrente, pelo aumento da excursão diafragmática e maior ampliação do tórax. As emocionais são causadas pelo sentimento de incapacidade gerado pela dor, além do forte medo de que algo errado possa estar ocorrendo com o bebê ou com a gestação A medida que o útero aumenta de tamanho, a matriz evadida da pelve, apóia-se a parede abdominal, e as mamas dilatadas e engrandecidas, pesam no tórax, o centro de gravidade da mulher desvia-se para diante forçando-a a adaptar-se. Todo corpo se joga para trás, compensatoriamente. A atitude é adotada de modo involuntário. Amplia-se a base de sustentação, os pés se afastam, as escápulas se projetam para trás. A coluna cervical retifica-se, encurvam-se o segmento dorsal e o lombar, esse mais discretamente, e se modifica o eixo da bacia. Muitas gestantes adotam posturas incorretas, impondo a coluna vertebral e as articulações um esforço desnecessário. Sendo que na gestação, a coluna, além de todas as funções que já desempenha normalmente, vai realizar uma função a mais, sustentar o peso do útero, do bebê, da placenta e do líquido amniótico.
Uma gestante que aumente em 20% seu peso corporal, pode aumentar em 100% as forças sobre suas articulações, associando-se ao deslocamento do centro de gravidade para frente e para cima, devido ao útero gravídico, tensionando a coluna lombo-sacra, o que juntamente com a instabilidade de equilíbrio poderiam aumentar a chance de lombalgia gestacional.
No período gestacional ocorre hipermobilidade articular como resultado da frouxidão ligamentar, e essa pode predispor a paciente a lesão articular e ligamentar, especialmente nas articulações que sustentam o peso na coluna, pelve e membros inferiores.
Diante das alterações no corpo da gestante, principalmente as modificações do centro de gravidade e da postura, 50% das mulheres apresentam dor lombar no período gestacional.
Embora a incidência da lombalgia já tenha sido relatada em 80% de gestantes analisadas.
A dor lombar mecânica, que ocorre na gravidez, pode ser classificada como dor lombar e dor pélvica posterior, sendo esta específica do período gestacional, parto e primeiros meses pós-parto.
As causas da dor lombar na gestação são descritas como a lordose excessiva, frouxidão ligamentar causada pela secreção de relaxina ou pela pressão direta do feto na rotura do nervo lombo-sacro, e a tensão dos músculos espinhais anti-gravitacionais devido a função ineficiente dos músculos da parede abdominal anterior. A lombalgia noturna principalmente no último trimestre gestacional, parece estar relacionada com a redução do fluxo sanguíneo medular devido à compressão dos grandes vasos pelo útero gravídico.
A lombalgia pode ser reconhecida pela frouxidão ligamentar associada a protusão abdominal, ou ainda, pela proximidade das porções póstero-superior das vértebras lombares que, pelo aumento da lordose, podem até se tocar. O contato das apófises espinhosas posteriores e a hiperextensão da coluna são responsáveis pelo aparecimento da dor.
O motivo exato de dor lombar durante a gravidez não é totalmente conhecido, mas fatores mecânicos como o peso do feto, associado com fatores hormonais como a produção de relaxina, estrogênio e progesterona parecem ser os responsáveis. Existe uma sobrecarga na coluna com aumento da lordose e cifose com inclinação da pelve e relaxamento dos ligamentos.
A lombalgia tipicamente se associa a fraqueza e coordenação deficitária dos músculos, como consequente aumento da tensão no iliopsoas, falta de tonicidade de glúteos e principalmente, diminuição da função dos músculos da parede abdominal, que se encontram alongados. No momento que um grupo muscular entra em fadiga, e a assimetria de solicitação é fator predisponente, desaparece sua função de estabilização, que será tomada por um grupo redundante, sobrecarregando-o e consequentemente, fadigando-o, num processo contínuo que termina por colapsar o sistema de estabilização da coluna. Um terço das mulheres grávidas se
referem a lombalgia como um problema severo, que interfere em suas atividades de vida diária e capacidade de trabalho, além de contribuir para insônia por se manifestar durante a noite.
A dor lombar na gestante se intensifica quando elas ficam muito tempo em pé ou sentadas, geralmente piora com os movimentos, e algumas tem dificuldade para caminhar, principalmente subir escadas. A dor ao entardecer é provocada pela fadiga muscular.
Deve-se analisar a lombalgia na gestação sob diversos prismas e não simplificada e banalizada em função do processo gestacional, já que, grande parte das lombalgias já existiam antes da mulher engravidar persistindo ou se agravando neste período.
Vários estudos descrevem opções de tratamento, sendo a orientação postural uma das mais importantes, pois a alteração postural é fisiológica, mas pode-se evitar o excesso de lordose ou retificação lombar. Podem ser dadas orientações às gestantes para evitar ficar muito tempo na mesma posição, evitar uso de sapatos de salto alto e realizar suas atividades na posição mais neutra possível No contexto da função músculo aponeurótica deve-se considerar a globalidade, ou seja, o músculo não deve ser visto como uma entidade funcional, e sim como um elemento constitutivo de um conjunto funcional indissociável, o tecido conjuntivo fibroso e o tecido muscular contrátil. 
Na abordagem clássica dos problemas musculares, o corpo é tratado de forma segmentada. Já a Reeducação Postural Global (RPG), considera o sistema muscular de forma integrada, em que os músculos se organizam em cadeias musculares, e visa tratar as causas e as consequências propondo um trabalho de alongamento dessas cadeias encurtadas.
A RPG trabalha as cadeias de tensão muscular, com posturas de alongamento, em lugar de exercícios de repetições. Sendo que nenhum músculo se move sozinho, trabalham globalmente, com a finalidade de ir do sintoma à causa das lesões, levando ao relaxamento das cadeias musculares encurtadas e ao equilíbrio do tônus postural.
A RPG é uma técnica que usa posturas ativas e simultâneas, isotônicas excêntricas dos músculos da estática, e com manutenção através dos músculos dinâmicos, sempre em decoaptação articular e progressivamente cada vez mais global. Busca se reencontrar a boa morfologia e solucionar os problemas ligados às causas e às consequências da patologia.
O Tratamento da RPG é realizado através de posturas estáticas estirando os músculos da estática contra uma pequena resistência permitindo-lhes recuperar o comprimento, a flexibilidade e a força ativa, sendo que as posições usadas no tratamento com RPG são: rã no chão com braço fechado; de pé contra a parede; de pé no meio; rã no chão com braço aberto; sentada; rã no ar com braço fechado; de pé, inclinado para frente; rã no ar com braço aberto.
Tal técnica objetiva atuar neste conjunto de cadeias musculares, de modo que os músculos estáticos sejam alongados e os dinâmicos contraídos.
A RPG trata globalmente os problemas músculo-articulares, utilizando-se de posturas de alongamento muscular baseadas na normalização da morfologia, visando abolir em um indivíduo, todas as compensações musculares decorrentes de uma agressão, objetivando ao mesmo tempo, tratar do efeito à causa.
Conclui-se que a técnica de Reeducação Postural Global (RPG) é eficaz no tratamento da lombalgia gestacional e deve ser sugerida como opção de tratamento para tais pacientes, pois pode ser notada a melhora do quadro álgico em uma paciente que desempenha atividades mantendo uma postura viciosa e errada, o que implica que o uso do método em qualquer outra gestante, principalmente as que não apresentam uma atividade agravante do quadro, seria indicado e eficiente.


Fonte:

  • Leão N.R, Silva S.C.S.M, Sandoval R.A. Reeducação Postural Global em gestantes com lombalgia.



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